A violência
O que há de
mais cruel ainda é que, como todos os progressos da espécie humana não cessam
de afastá-la de seu estado primitivo, quanto mais acumulamos conhecimentos,
mais nos privamos dos meios de adquirir o mais importante de todos; e, num
certo sentido, é de tanto estudar o homem que nos tornamos incapazes de
conhecê-lo.
Rousseau,
Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os
homens . L&PM Pocket. Edição do Kindle.
Minha filha Tatiana nasceu em
Itajubá. Eu, estudante, gastei CR# 3,5 cruzeiros para comprar uma coca cola
para minha esposa na maternidade, tinha cinco cruzeiros. Pensei em tudo, como
pagar? sustentá-las? Procurei um amigo, o sargento do Batalhão de Engenharia
Júdice de Souza Fernandes, meu amigo, e lhe pedi dinheiro alertando-o de que
não sabia se pagaria, quando e como. Deu-me um cheque de vinte mil cruzeiros.
Ato contínuo meus pais no Rio de Janeiro, minha mãe cuidando do pai canceroso
(faleceu em 27 de novembro daquele ano) me deram via conta bancária quinhentos
cruzeiros. Devolvi o cheque, comprei um filtro de água e paguei as contas da
maternidade. mais adiante meu amigo
Armando Moreira conseguiu um trabalho para mim e assim aos poucos escapei de
ser criminoso e me formei em Engenharia...
Na meia água em que morávamos, logo
que a Tati nasceu, mal consegui entrar. todas as senhoras da vizinhança estavam
disputando a oportunidade de ajudar a Tânia.
A conclusão desse episódio, entre
outros, é a de que podemos agir criminosamente em situações extremas.
A miséria
raramente foi entendida em suas causas e efeitos, pior ainda, a cegueira da
“gente de bem” e não do bem assusta.
Em Itajubá exercitei minha capacidade
de ajudar e ser apoiado por um povo incrivelmente hospitaleiro. agora penso, o
que acontece com o povo brasileiro no século 21? querem fuzis?
MEDO Hoje no Brasil, como
todos nós sabemos, o medo é um sentimento comum em nossas vidas. Vivemos em
constante preocupação e tensão. É uma realidade deprimente, pois o medo traz
ansiedade, perturba o sono, prejudica o trabalho, impede as pessoas de saírem
de casa. As cidades estão se transformando em verdadeiras muralhas de prédios,
inclusive nas praias, porque a maioria das pessoas prefere viver em condomínios,
abandonando a tranquilidade e o conforto de uma casa com jardim.
Tranquilidade?! Isso tínhamos há décadas, quando não havia grades nas portas e
janelas. E nenhum medo. Sequer passava pela mente
Pitta, Isabel. Reflexões
sobre miséria e violência no Brasil . Editora Buqui. Edição do Kindle.
É difícil entender como um país tão
rico naturalmente ainda não tenha resolvido seus desafios sociais tendo, nessas
últimas décadas,
alternado opções ideológicas e campanhas políticas milagreiras.
A violência tem sido pensada e
enfrentada de diversas formas. apesar de lógicas de bondade mudava para ações
violentíssimas quando a nação, tribo, família e o indivíduo se viam em risco de
sobrevivência. essa é uma lógica
natural, a da sobrevivência. Mas sempre criou sentimentos contrários em alguns
pensadores.
Desde muito
cedo, profetas e poetas ajudaram os homens a contemplar a tragédia da vida e a
enfrentar os danos que causavam aos outros. Na antiga Suméria a Atrahasis não
pôde encontrar uma solução para a injustiça social de que a civilização
dependia, mas essa lenda popular tornou as pessoas conscientes dela. Gilgamesh
teve de ficar face a face com o horror da morte, que retirava o falso glamour e
a nobreza da batalha. Os profetas de Israel obrigavam os governantes a assumir
responsabilidade pelo sofrimento que impunham aos pobres e os condenavam por
seus crimes de guerra. Os autores eclesiásticos da Bíblia hebraica viviam em
uma sociedade violenta e não podiam renunciar a ela, mas acreditavam que a
violência maculava os guerreiros, mesmo se a guerra tivesse o aval divino. Foi
por isso que Davi não teve permissão para construir o templo de Iahweh. Os
arianos adoravam a guerra e reverenciavam seus guerreiros; lutar e saquear eram
elementos fundamentais para uma economia pastoril; mas o guerreiro sempre
carregava uma mancha. Os estrategistas chineses admitiam que o estilo de vida
marcial era “enganoso”, portanto devia ser isolado da vida civil. Eles chamaram
a atenção para o fato desconfortável de que até mesmo um Estado ideal nutria em
seu coração uma instituição dedicada a matar, mentir e enganar.
Armstrong,
Karen. Campos de sangue . Companhia das Letras. Edição do Kindle.
O que qualquer povo não está livre é
das ambições de seus líderes.
Mario Vargas Llosa publicou livros
excepcionais sobre a “democracia” latino-americana, a Guerra de Canudos (Llosa, A Guerra do Fim do Mundo, s.d.) e a exploração
brutal dos congoleses na coleta do látex (O Sonho do Celta, s.d.) além de romances
excelentes.
A liberdade e a consciência do perigo
criado por lideranças
malformadas, dispostas a conquistar e manter o poder persistem e ganham novas
dimensões no século 21, ainda sob as sobras do totalitarismo, holocaustos,
guerras crudelíssimas.
O ser humano é um animal que precisa
de condições ambientais e naturais para ser o que a Humanidade precisa para
atingir um patamar de solidariedade e respeito muto saudável.
O potencial destrutivo e a capa
cidade de odiar assustam, assombram. o Holocausto
judeu é um exemplo inacreditável pois a Alemanha já era uma nação com elevado
grau de cultura e vivência em “soluções” drásticas, se lembrarmos que o Tratado
de Versalhes e sua aplicação impiedosa criou revoltas e ressentimentos
fortíssimos, ao final o Nazismo com suas características racistas, belicistas,
impiedoso e totalitário.
O nazifascismo foi um dos modelos
mais vergonhosos de organização social da Humanidade.
A pessoa de mal caráter aparece de
muitas maneiras. A deficiência moral tem muitas formas que os psiquiatras
relacionam e explicam { (Conti, s.d.), (Pisetta,
s.d.),
(Ribeiro, 2019)}.
Federico Fellini (Federico
Fellini, s.d.)
e um filme dele é para mim antológico, A Trapaça (Fellini, 1955).
A Trapaça (Fellini,
1956)
é, infelizmente, a regra do mundo do mais esperto. Documentários têm mostrado a
lógica de negócios norte americanos que fizeram fortunas bilionárias.
No Brasil isso aparece como
corrupção, e o pior é que já aceitamos criminosos como heróis, principalmente
se fizerem doações e facilidades para ONGs e. Muitos, muitíssimos filmes
mostram isso...
Em nossa pátria a violência aparece
de inúmeras formas, mas precisamos sair da cultura que Laurentino Gomes mostrou
como se formou nos seus livros denominados “ESCRAVIDÃO”.
O tema da liberdade readquire,
neste contexto, toda a sua importância – apesar da experiência do
totalitarismo, do impasse do pensamento contemporâneo, da trivialidade da
administração das coisas e da escuridão dos credibility gaps e invisible
government.
Arendt, Hannah. Entre o passado e o futuro (Debates) (pp.
23-24). Editora Perspectiva S/A. Edição do Kindle.
Personalidades e comportamentos assassinos