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quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

A violência

 

A violência

 

O que há de mais cruel ainda é que, como todos os progressos da espécie humana não cessam de afastá-la de seu estado primitivo, quanto mais acumulamos conhecimentos, mais nos privamos dos meios de adquirir o mais importante de todos; e, num certo sentido, é de tanto estudar o homem que nos tornamos incapazes de conhecê-lo.

Rousseau, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens . L&PM Pocket. Edição do Kindle.

 

Minha filha Tatiana nasceu em Itajubá. Eu, estudante, gastei CR# 3,5 cruzeiros para comprar uma coca cola para minha esposa na maternidade, tinha cinco cruzeiros. Pensei em tudo, como pagar? sustentá-las? Procurei um amigo, o sargento do Batalhão de Engenharia Júdice de Souza Fernandes, meu amigo, e lhe pedi dinheiro alertando-o de que não sabia se pagaria, quando e como. Deu-me um cheque de vinte mil cruzeiros. Ato contínuo meus pais no Rio de Janeiro, minha mãe cuidando do pai canceroso (faleceu em 27 de novembro daquele ano) me deram via conta bancária quinhentos cruzeiros. Devolvi o cheque, comprei um filtro de água e paguei as contas da maternidade.  mais adiante meu amigo Armando Moreira conseguiu um trabalho para mim e assim aos poucos escapei de ser criminoso e me formei em Engenharia...

Na meia água em que morávamos, logo que a Tati nasceu, mal consegui entrar. todas as senhoras da vizinhança estavam disputando a oportunidade de ajudar a Tânia.

A conclusão desse episódio, entre outros, é a de que podemos agir criminosamente em situações extremas.

A miséria[1] raramente foi entendida em suas causas e efeitos, pior ainda, a cegueira da “gente de bem” e não do bem assusta.

Em Itajubá exercitei minha capacidade de ajudar e ser apoiado por um povo incrivelmente hospitaleiro. agora penso, o que acontece com o povo brasileiro no século 21? querem fuzis?

MEDO Hoje no Brasil, como todos nós sabemos, o medo é um sentimento comum em nossas vidas. Vivemos em constante preocupação e tensão. É uma realidade deprimente, pois o medo traz ansiedade, perturba o sono, prejudica o trabalho, impede as pessoas de saírem de casa. As cidades estão se transformando em verdadeiras muralhas de prédios, inclusive nas praias, porque a maioria das pessoas prefere viver em condomínios, abandonando a tranquilidade e o conforto de uma casa com jardim. Tranquilidade?! Isso tínhamos há décadas, quando não havia grades nas portas e janelas. E nenhum medo. Sequer passava pela mente

 

Pitta, Isabel. Reflexões sobre miséria e violência no Brasil . Editora Buqui. Edição do Kindle.

É difícil entender como um país tão rico naturalmente ainda não tenha resolvido seus desafios sociais tendo, nessas últimas décadas[2], alternado opções ideológicas e campanhas políticas milagreiras.

A violência tem sido pensada e enfrentada de diversas formas. apesar de lógicas de bondade mudava para ações violentíssimas quando a nação, tribo, família e o indivíduo se viam em risco de sobrevivência.  essa é uma lógica natural, a da sobrevivência. Mas sempre criou sentimentos contrários em alguns pensadores.

Desde muito cedo, profetas e poetas ajudaram os homens a contemplar a tragédia da vida e a enfrentar os danos que causavam aos outros. Na antiga Suméria a Atrahasis não pôde encontrar uma solução para a injustiça social de que a civilização dependia, mas essa lenda popular tornou as pessoas conscientes dela. Gilgamesh teve de ficar face a face com o horror da morte, que retirava o falso glamour e a nobreza da batalha. Os profetas de Israel obrigavam os governantes a assumir responsabilidade pelo sofrimento que impunham aos pobres e os condenavam por seus crimes de guerra. Os autores eclesiásticos da Bíblia hebraica viviam em uma sociedade violenta e não podiam renunciar a ela, mas acreditavam que a violência maculava os guerreiros, mesmo se a guerra tivesse o aval divino. Foi por isso que Davi não teve permissão para construir o templo de Iahweh. Os arianos adoravam a guerra e reverenciavam seus guerreiros; lutar e saquear eram elementos fundamentais para uma economia pastoril; mas o guerreiro sempre carregava uma mancha. Os estrategistas chineses admitiam que o estilo de vida marcial era “enganoso”, portanto devia ser isolado da vida civil. Eles chamaram a atenção para o fato desconfortável de que até mesmo um Estado ideal nutria em seu coração uma instituição dedicada a matar, mentir e enganar.

Armstrong, Karen. Campos de sangue . Companhia das Letras. Edição do Kindle.

 

O que qualquer povo não está livre é das ambições de seus líderes[3].

Mario Vargas Llosa publicou livros excepcionais sobre a “democracia” latino-americana, a Guerra de Canudos (Llosa, A Guerra do Fim do Mundo, s.d.) e a exploração brutal dos congoleses na coleta do látex (O Sonho do Celta, s.d.) além de romances excelentes.

A liberdade e a consciência do perigo criado por lideranças[4] malformadas, dispostas a conquistar e manter o poder persistem e ganham novas dimensões no século 21, ainda sob as sobras do totalitarismo, holocaustos, guerras crudelíssimas.

O ser humano é um animal que precisa de condições ambientais e naturais para ser o que a Humanidade precisa para atingir um patamar de solidariedade e respeito muto saudável.

O potencial destrutivo e a capa cidade de odiar assustam, assombram. o Holocausto[5] judeu é um exemplo inacreditável pois a Alemanha já era uma nação com elevado grau de cultura e vivência em “soluções” drásticas, se lembrarmos que o Tratado de Versalhes e sua aplicação impiedosa criou revoltas e ressentimentos fortíssimos, ao final o Nazismo com suas características racistas, belicistas, impiedoso e totalitário.

O nazifascismo foi um dos modelos mais vergonhosos de organização social da Humanidade.

A pessoa de mal caráter aparece de muitas maneiras. A deficiência moral tem muitas formas que os psiquiatras relacionam e explicam { (Conti, s.d.), (Pisetta, s.d.), (Ribeiro, 2019)}.

Federico Fellini (Federico Fellini, s.d.) e um filme dele é para mim antológico, A Trapaça (Fellini, 1955).

A Trapaça (Fellini, 1956) é, infelizmente, a regra do mundo do mais esperto. Documentários têm mostrado a lógica de negócios norte americanos que fizeram fortunas bilionárias.

No Brasil isso aparece como corrupção, e o pior é que já aceitamos criminosos como heróis, principalmente se fizerem doações e facilidades para ONGs e. Muitos, muitíssimos filmes mostram isso...

Em nossa pátria a violência aparece de inúmeras formas, mas precisamos sair da cultura que Laurentino Gomes mostrou como se formou nos seus livros denominados “ESCRAVIDÃO”.

 



[1] calhar. A concentração de pessoas em pouco espaço põe em relevo a pobreza, a insalubridade, a criminalidade, a indiferença — condições que, no ambiente rural, podiam se apresentar de forma atenuada, graças à mera dispersão demográfica. Dostoiévski carrega nas tintas ao retratar as condições de moradia da cidade, onde os apartamentos eram alugados e sublocados, divididos e subdivididos, em cômodos cada vez menores. Cubículo, toca, cela, caixote, canto — a lista de palavras que, no romance, designam as habitações fala por si só. O efeito psicológico traumático do ambiente ressalta nas reações e nas palavras dos próprios personagens.

Dostoiévski, Fiódor. Crime e Castigo (pp. 6-7). Todavia. Edição do Kindle.

[2] A criminalidade brasileira das últimas décadas é fruto não apenas da miséria, mas também do desenvolvimento, ou melhor, de certo tipo de desenvolvimento que se fez rápida e desordenadamente, inchando as periferias dos centros urbanos mais ricos. Este desenvolvimento trouxe melhorias econômicas e sociais - diminuição do analfabetismo, da mortalidade infantil, aumento da renda média. Mas a reboque, este processo de crescimento e desenvolvimento aglutinou no entorno dos grandes centros uma massa de população urbana que convive com a riqueza e abundância, beneficia-se parcialmente dela - em comparação com as populações dos estados menos desenvolvidos - mas que não se integrou nem tem meios de se integrar aos mercados sofisticados de produção e consumo dos polos desenvolvidos destas cidades.

Kahn, Tulio. Estudos sobre Violência e Criminalidade no Brasil Atual (p. 11). Unknown. Edição do Kindle.

[3] Essas três palavras – Corrupção, Omissão e Incompetência - formam um caldeirão de miséria, violência, sofrimento e medo. E a doença se agrava porque não é tratada. Há décadas ela cresce, se avoluma de modo assustador, implacável.

Pitta, Isabel. Reflexões sobre miséria e violência no Brasil . Editora Buqui. Edição do Kindle.

[4] O tema da liberdade readquire, neste contexto, toda a sua importância – apesar da experiência do totalitarismo, do impasse do pensamento contemporâneo, da trivialidade da administração das coisas e da escuridão dos credibility gaps e invisible government.

Arendt, Hannah. Entre o passado e o futuro (Debates) (pp. 23-24). Editora Perspectiva S/A. Edição do Kindle.

Personalidades e comportamentos assassinos

 

[5] A partir da segunda metade do século XIX deu-se então uma transmutação, fruto, por igual, do avanço das ciências positivas. O antiquíssimo antijudaísmo de origem religiosa (judeus odiados por desprezarem ou traírem Cristo) deu lugar ao moderno antissemitismo (o judeu como uma ameaça à pátria e, simultaneamente, à raça ariana). Essa alteração radical revelou-se ainda mais mortífera para os judeus, visto que antes, quando acusados pelos líderes cristãos de serem portadores de uma crença considerada maligna, ainda podiam escapar com vida por meio da conversão ao cristianismo (como ocorreu em diversos episódios da história europeia). Quando, todavia, os compararam a bacilos e a vírus perigosos que punham em risco a segurança da nação ou a saudabilidade da raça branca, abriram-se as portas para a pavorosa política do seu extermínio em massa, pois é impossível acreditar-se na regeneração de uma bactéria nociva.

 

Schilling, Voltaire. Holocausto - Das origens do povo judeu ao genocídio nazista (pp. 8-9). AGE. Edição do Kindle.

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