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quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Preconceitos Infames

 

Preconceitos infames

 

As lutas a favor dos direitos das mulheres[1] são mais ocidentais do que no resto do mundo. Em defesa de culturas tradicionais vale tudo.

É triste ver entre povos antigos ou isolados em florestas, savanas, montanhas e até em cidades grandes seres humanos tão importantes quanto as mulheres serem maltratadas, exploradas, violentadas, torturadas e até condenadas à morte por pretenderem ser livres e se arriscarem a conviver em ambientes hostis.

O antissemitismo[2] tem sido instrumento ações políticas e religiosas inacreditavelmente violentas.

O racismo é uma chaga difícil de curar. No Brasil os preconceitos de cor[3] e raça perduram, foram radicais, mas se atenuam à medida que a educação e lutas pelos Direitos Humanos[4] persiste.

Preconceitos de sexo[5], raça, cor, religiões, patriotismo radical e até esportivos mantêm a Humanidade em constante tensão.

O tema é base para inúmeros romances e estudos.

É estranho ver que nações que sofreram tanto com o racismo e religião se transformarem em base de agressividade contra outros povos que diferem delas.

A pandemia está esgaçando feridas e acentuando hostilidades contra migrantes.

Desde o surgimento do ser humano sobre a Terra evoluímos, mas não atingimos um sentimento de fraternidade universal.

A miséria não faz sentido, mas a ironia máxima é viver em um país rico por natureza com milhões de pessoas sem teto, comida, serviços essenciais, escolas, creches, segurança em geral.

As grandes potências, sem exceção, são exemplos de mediocridade social.

Nunca os seres humanos puderam tanto quanto agora viajar, fazer turismo; para quê? fazer selfies?

Como diria Jô Soares: a ignorância é um espanto.

A ignorância, contudo, mostra que as gerações mais velhas não tiveram ou não quiseram entender e saber de História, Sociologia, Psicologia etc.

O nosso desafio, com todas as desculpas possíveis, é sobreviver em tempos de todo tipo de guerra cataclísmica possível.

A tecnologia não esperou o amadurecimento social e pessoal dos homens e das mulheres.

Ao nascer nada sabemos, dependemos demais do tempo e de escolas, lições da vida, acadêmicas etc.

Que milagre poderá acelerar o amadurecimento do “homo sapiens sapiens”?

 

 

 

Ver, entender e querer criar uma sociedade justa, livre, fraterna, livre é uma deficiência flagrante em todos os níveis da sociedade humana, algo que leva instituições sérias a denunciar e tentar corrigir.

 

João Carlos Cascaes

Curitiba, 22 de dezembro de 2021



[1] Diz-se que mulheres não têm poder, aquele com conotação política e que se dirige ao comando do Estado, o que é, pelo senso comum, de ordem masculina. Mas mulheres têm poderes, o que nos traz a compreensão de algo fragmentado, que se dissemina e atinge várias dimensões do cotidiano, como influências. Talvez sim. Contudo, as “influências” que têm as mulheres, seus atributos de sedução, a fertilidade e a maternidade, poderes quase mistérios, não são a elas suficientes. Não é isso que procuram exaltar. Mulheres não querem poder, nem poderes. Mulheres desejam ser o que são, dignamente.

Viviane Teles de Magalhães Araújo. Mulheres iguais na diferença : a igualdade de gênero no mercado de trabalho brasileiro e a eficácia dos direitos fundamentais (p. 183). Edição do Kindle.

[2] contra a fé em Cristo” ao professar o judaísmo.2 Uma forma de distinguir e apartar os perversos, as “almas desviadas do rebanho de Deus”, do convívio com os ditos bons cristãos e homens de bem do reino. Separar, a partir daquele momento e para todo o sempre, “os que andam nas trevas dos que caminham na luz”. Pela exibição ostensiva de suas culpas, os infiéis seriam expostos ao escárnio e ao desprezo dos considerados puros de coração. Quid enim magis persequitu vitam bonorum quam vita iniquinorum? “Que coisa persegue mais a vida dos bons que a maldade dos maus?” — indagava, em sermões, d. Afonso de Castelo Branco, bispo de Coimbra.3

Neto, Lira. Arrancados da terra (pp. 15-16). Companhia das Letras. Edição do Kindle.

[3] Outro dos autores que Chico dizia receber era Cruz e Sousa, o principal poeta do simbolismo brasileiro. Nascido em 1861, em Nossa Senhora do Desterro, hoje Florianópolis, era filho de ex-escravos e cresceu sob a proteção dos antigos proprietários, que bancaram sua educação. Sofreu a vida inteira preconceito por ser negro. Chegou a ser nomeado promotor, mas não pôde assumir a função por conta da cor da pele. Seus livros mais célebres foram Missal e Broquéis, que o consagraram como fundador do simbolismo brasileiro, com poesias musicais, pessimistas, cheias de metáfora e com linguagem rebuscada. Casou-se e teve quatro filhos, que morreram todos de tuberculose, doença que também levou o poeta, aos 36 anos. Os textos publicados por Chico mantêm o tom religioso e a ideia de sofrimento redentor que marcam a última fase da carreira de Cruz e Sousa.

Santi, Alexandre de; Schröder, André. Chico Xavier: A Vida. A Obra. As Polêmicas. . Abril. Edição do Kindle.

[4] Em outros tempos, quando Friedrich Nietzsche, companheiro de Burckhardt, apresentou originalmente a distinção entre história antiquária, monumental e crítica, foi o Estado-nação que os historiadores optaram por erigir ou demolir; nos nossos dias, com frequência isso ocorre com os direitos humanos, bem como com suas leis internacionais e servidores transnacionais. O principal objetivo deste livro é insistir no impulso crítico: a história dos direitos humanos deve evitar esquadrinhar o passado como se ele fornecesse um respaldo consistente para o movimento internacional surpreendentemente específico das últimas décadas. Esse movimento compreende uma política para a qual a história oferece pouca validação porque ela é muito nova. Se o estudo do passado é de alguma forma útil para confrontar o que ocorre hoje em nome de valores atemporais e universais, o que ele prenuncia é a reinvenção de nosso movimento em nome de um mundo mais justo. Até o momento, os direitos humanos fizeram muito pouco para viabilizar esse mundo, o que deixa em aberto uma missão que transcende a interpretação do passado: a construção do futuro.

Moyn, Samuel. Direitos Humanos e Usos da História (p. 12). Editora Unifesp. Edição do Kindle.

[5] É... Jesus tinha razão. Não estávamos preparados à época, e provavelmente, muito menos hoje. Chegamos a Gaza, mas nos recusamos a aproximar-nos da carruagem em movimento. Talvez por amá-los na mesma proporção de que amamos os bandidos... Dizemos amá-los, mas optamos por manter distância. E assim, preferimos a inflexibilidade da Lei ao Espírito da Graça. E é justamente a Lei que nos oferece a chave com a qual trancamos o armário no qual muitos se escondem (alguns dos quais exercem cargos eclesiásticos, usando o púlpito como armário). Somente um ambiente impregnado de graça oferecerá acolhimento e compaixão. Afinal, somos todos humanos, desesperadamente carentes desta graça capaz de fazer-nos renunciar às próprias paixões e concupiscências.[68] Graça que, igualmente, nos capacita a vencer nossos preconceitos e medos. Respondendo à pergunta proposta no título deste post. O eunuco da vez é todo aquele que desprezamos, do qual queremos distância. Pelo menos assim, não seremos obrigados a amá-los, já que esta obrigação só diz respeito ao próximo... só que não!

 

Fernandes, Hermes. HOMOSSEXUALIDADE: Da sombra da lei à luz da graça (pp. 63-64). Edição do Kindle.

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