Preconceitos infames
As lutas a favor dos direitos das mulheres[1]
são mais ocidentais do que no resto do mundo. Em defesa de culturas
tradicionais vale tudo.
É triste ver entre povos antigos ou isolados
em florestas, savanas, montanhas e até em cidades grandes seres humanos tão
importantes quanto as mulheres serem maltratadas, exploradas, violentadas,
torturadas e até condenadas à morte por pretenderem ser livres e se arriscarem
a conviver em ambientes hostis.
O antissemitismo[2]
tem sido instrumento ações políticas e religiosas inacreditavelmente violentas.
O racismo é uma chaga difícil de curar. No
Brasil os preconceitos de cor[3] e
raça perduram, foram radicais, mas se atenuam à medida que a educação e lutas
pelos Direitos Humanos[4]
persiste.
Preconceitos de sexo[5], raça,
cor, religiões, patriotismo radical e até esportivos mantêm a Humanidade em
constante tensão.
O tema é base para inúmeros romances e estudos.
É estranho ver que nações que sofreram tanto
com o racismo e religião se transformarem em base de agressividade contra
outros povos que diferem delas.
A pandemia está esgaçando feridas e acentuando
hostilidades contra migrantes.
Desde o surgimento do ser humano sobre a Terra
evoluímos, mas não atingimos um sentimento de fraternidade universal.
A miséria não faz sentido, mas a ironia máxima
é viver em um país rico por natureza com milhões de pessoas sem teto, comida,
serviços essenciais, escolas, creches, segurança em geral.
As grandes potências, sem exceção, são
exemplos de mediocridade social.
Nunca os seres humanos puderam tanto quanto
agora viajar, fazer turismo; para quê? fazer selfies?
Como diria Jô Soares: a ignorância é um
espanto.
A ignorância, contudo, mostra que as gerações
mais velhas não tiveram ou não quiseram entender e saber de História,
Sociologia, Psicologia etc.
O nosso desafio, com todas as desculpas
possíveis, é sobreviver em tempos de todo tipo de guerra cataclísmica possível.
A tecnologia não esperou o amadurecimento
social e pessoal dos homens e das mulheres.
Ao nascer nada sabemos, dependemos demais do
tempo e de escolas, lições da vida, acadêmicas etc.
Que milagre poderá acelerar o amadurecimento
do “homo sapiens sapiens”?
Ver, entender e querer criar uma sociedade
justa, livre, fraterna, livre é uma deficiência flagrante em todos os níveis da
sociedade humana, algo que leva instituições sérias a denunciar e tentar
corrigir.
João Carlos
Cascaes
Curitiba, 22
de dezembro de 2021
[1]
Diz-se que mulheres não têm poder, aquele com conotação política e que se
dirige ao comando do Estado, o que é, pelo senso comum, de ordem masculina. Mas
mulheres têm poderes, o que nos traz a compreensão de algo fragmentado, que se
dissemina e atinge várias dimensões do cotidiano, como influências. Talvez sim.
Contudo, as “influências” que têm as mulheres, seus atributos de sedução, a
fertilidade e a maternidade, poderes quase mistérios, não são a elas
suficientes. Não é isso que procuram exaltar. Mulheres não querem poder, nem
poderes. Mulheres desejam ser o que são, dignamente.
Viviane Teles de Magalhães Araújo. Mulheres iguais na
diferença : a igualdade de gênero no mercado de trabalho brasileiro e a
eficácia dos direitos fundamentais (p. 183). Edição do Kindle.
[2]
contra a fé em Cristo” ao professar o judaísmo.2 Uma forma de distinguir e
apartar os perversos, as “almas desviadas do rebanho de Deus”, do convívio com
os ditos bons cristãos e homens de bem do reino. Separar, a partir daquele
momento e para todo o sempre, “os que andam nas trevas dos que caminham na
luz”. Pela exibição ostensiva de suas culpas, os infiéis seriam expostos ao
escárnio e ao desprezo dos considerados puros de coração. Quid enim magis
persequitu vitam bonorum quam vita iniquinorum? “Que coisa persegue mais a vida
dos bons que a maldade dos maus?” — indagava, em sermões, d. Afonso de
Castelo Branco, bispo de Coimbra.3
Neto, Lira. Arrancados da terra (pp. 15-16). Companhia
das Letras. Edição do Kindle.
[3] Outro
dos autores que Chico dizia receber era Cruz e Sousa, o principal poeta do
simbolismo brasileiro. Nascido em 1861, em Nossa Senhora do Desterro, hoje
Florianópolis, era filho de ex-escravos e cresceu sob a proteção dos antigos
proprietários, que bancaram sua educação. Sofreu a vida inteira preconceito por
ser negro. Chegou a ser nomeado promotor, mas não pôde assumir a função por
conta da cor da pele. Seus livros mais célebres foram Missal e Broquéis, que o
consagraram como fundador do simbolismo brasileiro, com poesias musicais,
pessimistas, cheias de metáfora e com linguagem rebuscada. Casou-se e teve
quatro filhos, que morreram todos de tuberculose, doença que também levou o
poeta, aos 36 anos. Os textos publicados por Chico mantêm o tom religioso e a
ideia de sofrimento redentor que marcam a última fase da carreira de Cruz e
Sousa.
Santi, Alexandre de; Schröder, André. Chico Xavier: A
Vida. A Obra. As Polêmicas. . Abril. Edição do Kindle.
[4] Em
outros tempos, quando Friedrich Nietzsche, companheiro de Burckhardt,
apresentou originalmente a distinção entre história antiquária, monumental e
crítica, foi o Estado-nação que os historiadores optaram por erigir ou demolir;
nos nossos dias, com frequência isso ocorre com os direitos humanos, bem como
com suas leis internacionais e servidores transnacionais. O principal objetivo
deste livro é insistir no impulso crítico: a história dos direitos humanos deve
evitar esquadrinhar o passado como se ele fornecesse um respaldo consistente
para o movimento internacional surpreendentemente específico das últimas
décadas. Esse movimento compreende uma política para a qual a história oferece
pouca validação porque ela é muito nova. Se o estudo do passado é de alguma
forma útil para confrontar o que ocorre hoje em nome de valores atemporais e
universais, o que ele prenuncia é a reinvenção de nosso movimento em nome de um
mundo mais justo. Até o momento, os direitos humanos fizeram muito pouco para
viabilizar esse mundo, o que deixa em aberto uma missão que transcende a interpretação
do passado: a construção do futuro.
Moyn, Samuel. Direitos Humanos e Usos da História (p.
12). Editora Unifesp. Edição do Kindle.
[5]
É... Jesus tinha razão. Não estávamos preparados à época, e provavelmente,
muito menos hoje. Chegamos a Gaza, mas nos recusamos a aproximar-nos da
carruagem em movimento. Talvez por amá-los na mesma proporção de que amamos os
bandidos... Dizemos amá-los, mas optamos por manter distância. E assim,
preferimos a inflexibilidade da Lei ao Espírito da Graça. E é justamente a Lei
que nos oferece a chave com a qual trancamos o armário no qual muitos se
escondem (alguns dos quais exercem cargos eclesiásticos, usando o púlpito como
armário). Somente um ambiente impregnado de graça oferecerá acolhimento e
compaixão. Afinal, somos todos humanos, desesperadamente carentes desta graça
capaz de fazer-nos renunciar às próprias paixões e concupiscências.[68] Graça
que, igualmente, nos capacita a vencer nossos preconceitos e medos. Respondendo
à pergunta proposta no título deste post. O eunuco da vez é todo aquele que
desprezamos, do qual queremos distância. Pelo menos assim, não seremos
obrigados a amá-los, já que esta obrigação só diz respeito ao próximo... só que
não!
Fernandes, Hermes. HOMOSSEXUALIDADE: Da sombra da lei
à luz da graça (pp. 63-64). Edição do Kindle.
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